Eu sou a dama da noite que vai te contaminar com seu perfume
venenoso e mortal. Eu sou a flor carnívora e noturna que vai te
entontecer e te arrastar para o fundo de seu jardim pestilento. Eu sou a
dama maldita que, sem nenhuma piedade, vai te poluir com todos os
líquidos, contaminar teu sangue com todos os vírus. Cuidado comigo:
eu sou a dama que mata, boy. Está escrito na sua cara, tudo que você
não viu nem fez está escrito nessa sua cara que já nasceu de máscara pregada.
Você já nasceu proibido de tocar no corpo do outro.
Você não conhece esse gosto que é o gosto que faz com
que voce fique fora da roda que roda e roda e que se foda rodando sem
parar, porque o rodar dela é o rodar de quem consegue fingir que não
viu o que viu. O boy, esse mundo sujo todo pesando em cima de você,
muito mais do que de mim - e eu ainda nem comecei a falar na morte...
Já viu gente morta, boy? É feio, boy. A morte é muito feia, muito
suja, muito triste. Queria eu tanto ser assim delicada e poderosa, para
te conceder a vida eterna. Queria ser uma dama nobre e rica para te
encerrar na torre do meu castelo e poupar você desse encontro
inevitável com a morte. Cara a cara com ela, você já esteve? Eu, sim,
tantas vezes. Eu sou curtida, meu bem. A gente lê na sua cara que
nunca. Esse furinho de veado no queixo, esse olhinho verde me olhando
assim que nem eu fosse a Isabelia Rossellini levando porrada e
gostando e pedindo eat me eat me, escrota e deslumbrante. Essa
tontura que você está sentindo não é porre, não. Ë vertigem do pecado,
meu bem, tontura do veneno, O que que você vai contar amanhã na
escola, hein? Sim, porque você ainda deve ir à escola, de lancheira e
tudo. Já sei: conheci uma mina meio coroa, porra-louca demais.
Eu, cansei. Já não estou mais na idade. Quantos? Ah, você não
vai acreditar, esquece. O que importa é que você entra por um ouvido
meu e sai pelo outro, sabia? Você não fica, você não marca. Eu sei que
fico, em você, eu sei que marco você. Marco fundo. Eu sei que, daqui a
um tempo, quando você estiver rodando na roda, vai lembrar que, uma
noite, sentou ao lado de uma mina louca que te disse coisas, que te
falou no sexo, na solidão, na morte; Feia, tão feia a morte, boy. A pessoa
fica meio verde, sabe? Da cor quase assim desse molho de espinafre
frio. Mais clarinho um pouco, mas isso nem é o pior. Tem uma coisa
que já não está mais ali, isso é o mais triste. Você olha, olha e olha e o
corpo fica assim que nem uma cadeira. Uma mesa, um cinzeiro, um
prato vazio. Uma coisa sem nada dentro. Que nem casca de amendoim
jogada na areia, é assim que a gente fica quando morre, viu, boy? E
você, já descobriu que um dia também vai morrer?
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