Começou aos poucos com isso. E foi piorando. A doença é sim arrogante e preconceituosa, mas o mundo segue sambando, suando, escarrando. Enquanto ela se resguarda e se alimenta em sua maldade higiênica. A solidão desinfetada. Mas de dentro dessas bolhas macabras cheias de regras maníacas de um cérebro doente, ainda bate alguma coisa desritmada, vez ou outra, lhe dando escuros impulsos de vida. Um prolapso de desejo. E essa coisa bateu quando ela o viu. O fundo do seu peito exala um azedo de cocaína no sangue. Ele colocou a musica que dilacerava seu coração e, ao vê-la em prantos, só foi capaz de aumentar o som. Naquela noite ele estava especialmente sujo. Ele sumiu e voltou com um pentelho loiro grudado no suor da testa. Seu pulso fedia vodka, cigarro e carne mole. Fedia um coração apodrecido pelos seus desejos noturnos. Ele agarrou no braço de uma morena corcunda que não sabia ser solicitada por um deus. Ele é meu deus, ela pensou quando se sentiu correndo bem rápido de sua gaiola. Voando bem rápido de sua ratoeira. Sempre que ser bicho vem é tão novo que não se sabe ao certo encaixar as coerências. Ela vai até ele e enfia seu dedo dentro de sua orelha. Eu gosto de mulheres altas e magras, ele diz. Eu não gosto de você. Ela vai até ele e esfrega o osso da sua bacia. Eu não gosto de você, ele diz agora misturando ódio com delicadeza. Ela vai até ele e faz pra cima e pra baixo com a mão, por cima da calça. Por que se humilhar? Essa pergunta os dois se fazem. Ambos envergonhados e enojados. Porque é tudo tão chato, é tudo tão limpo, o certo fica errado de repente, enquanto dormimos na falsa paz que nos carrega sedados de um dia para o outro.
Achei isso aqui de repente. Você parece sofrer , pequena. Não sofra, a vida só está começando. Seus textos são esplêndidos. Parabéns.
ResponderExcluirUm pouco talvez, mas sofrimento é um tempero para o amadurecimento eu costumo pensar.
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